Parte 2
Aviso aos usuários de celular: a legenda "ao lado" se refere às imagens que estão "acima"
No ano de 2000, através da revista Cães e Cia, o mercado do FB lançava um novo modelo de morfologia para a raça. Em 2016, a CBKC coerentemente corrigia seu padrão escrito, já que o modelo de 2000 estava em pleno uso, pela maioria do mercado de cães da raça Fila Brasileiro..
Acima, à esquerda, modelo traçado em 2000. Ao lado, tipo praticado na atualidade
Em 2013, teve inicio a criação do Núcleo de Preservação do Original Fila Brasileiro, com o registro do Padrão Original Fila Brasileiro, com patente na Biblioteca Nacional. O padrão toma por base os conceitos originais de Paulo Santos Cruz, e acrescenta itens direcionados para evitar as distorções morfológicas mais comuns atualmente. O objetivo é resgatar o cão em desaparecimento.
Começava nosso trabalho lentamente. Começamos a registrar animais de morfologia compatível com o texto do padrão. Muitos destes, que se enquadram no conceito de cães aborígenes, de Vladimir Beregovoy. Decidimos seguir o método que o pesquisador aconselha: o intercâmbio genético entre linhagens selecionadas por bons criadores, mais próximos do original, e cães do interior, ainda em trabalho de campo, ainda utilizados na funcionalidade do dia a dia.
Acima, dois cães do tipo aborígene, em teste de reprodução.
Acima, cabeças em detalhes, de Filas Originais, do tipo que denominamos aborígenes, por estarem menos tocados pela mão humana que os cães de criações tradicionais.
Acima, à esquerda a fêmea Malu do Martalice e à direita o cão Eros do Puri Moreno, originais registrados, para experimento em reprodução. Fortes, de grande ossatura, porém sem os excessos do Fila Moderno.
Acima, à esquerda, a fêmea Tigresa do Martalice, resultante de acasalamento entre Fila Brasileiro de bom padrão, e cadela aborígene. Primeira geração de um trabalho de resgate. À direita, aspecto da cabeça de um cão registrado em RI em 2018.
Em 1980, a revista Cães e Cia, publicava uma reportagem, onde Paulo Santos Cruz, à frente dos trabalhos de resgate do Fila Brasileiro, com um programa precursor do nosso, dizia : “Nós apelamos para aqueles criadores que ainda não se juntaram a nós, que nos procurem. Mas, somente aqueles que queiram criar honestamente; não os que estão exclusivamente atrás de medalhas e troféus”.
E ele dava a dica, para quem quisesse entender, na mesma reportagem, se fazendo fotografar com um cão, absolutamente do tipo aborígene, quem sabe já indicando o programa: a utilização de cães rústicos, nativos, radicalmente originais, para o alcance de um padrão, já naquela época em risco de extinção.
Abaixo: Paulo Santos Cruz, com o cão Aritana, da Fazenda João Costa, Cães e Cia n. 63. Revista Cães e Cia, todos os direitos reservados, finalidade didática, sem fins lucrativos.
Hoje, ainda buscamos estes cães pelo interior, abandonados pela cinofilia do Fila Moderno, e mais que nunca, ameaçados de extinção.
E repetimos sem medo de errar, as palavras do velho lutador: “Nós apelamos para aqueles criadores que ainda não se juntaram a nós, que nos procurem. Mas, somente aqueles que queiram criar honestamente; não os que estão exclusivamente atrás de medalhas e troféus”. Acreditamos que ainda há tempo.
Nas imagens que seguem abaixo, à esquerda, cabeças de cães Fila Brasileiro atuais, com pedigree. À direita, cabeças de Original Fila Brasileiro. Observe-se a suavidade da expressão no Original.
À direita Tigresa do Puri Moreno
À direita, Bonita do Caramonã.
À direita, Tigresa do Martalice.
A cabeça dos animais de raça, em qualquer espécie é indicador importante de raça, devendo significar ao primeiro olhar, a expressão característica e uniforme do padrão. Alterando-se a cabeça de qualquer raça animal em seus requisitos básicos, altera-se o conceito de raça. A estética é uma noção de beleza ou de organização simétrica, de cores e padrões que pode se alterar com o tempo, sujeita a modismos e influencias diversas de gostos de época. No caso do Original Fila Brasileiro, optamos pela mais autêntica morfologia possível, descartando-se o material genético já alterado e retornando-se ao passado dentro do possível com o plantel ainda existente, que expresse a originalidade da raça. Acreditamos que em diversos planteis ainda seja possível resgatar este padrão.
Não seria mais viável e racional trabalhar para se resgatar tipos mais de conformidade com o padrão Santos Cruz, a partir de animais morfologicamente homogêneos, como acima? Ou nós já teríamos vergonha hoje de apresentar em exposição um animal de cabeça como acima à direita, de uma foto do cão Leo da Jaguara? O que nos diria Dr. Paulo Santos Cruz?
Acima, o cão Leãozinho do Aquenta Sol há décadas atrás, um ícone do Cafib. Cão com origem no Sul de Minas, cujos antecedentes genéticos foram resgatados por José Amilton. Seria este um cão desejável em uma exposição de Fila Brasileiro atualmente? Não seria ele considerado por muitos, pernalta, mestiço de Dog Alemão?
Na continuação do nosso trabalho, vamos também demonstrar as alterações na conformação física dos novos Filas, relativamente à estrutura, porte, massa corporal e as relações de proporcionalidade, considerando-se altura X comprimento, assim como tamanho das pernas e consequentemente, altura na cernelha.
Novamente poderíamos citar a palavras de Santos Cruz, quando afirma que ao construir o padrão da raça, apenas tentou traduzir o que via nas fazendas.
A desconstrução deste padrão através de alterações sutis na morfologia, aspecto geral e cabeça do Fila Brasileiro, ainda que se afirme sempre pela preservação do Fila Puro, vem permitindo a aproximação de linhagens e genéticas, dantes consideradas mestiças, com linhagens de padrão mais ao estilo antigo. Deixa a parecer que o objetivo é se alcançar o Fila puro por cruza, unindo-se clubes (ou linhagens) de grande força comercial no futuro.
Para onde iriam os cães de padrão original neste futuro?
Acima: à esquerda, cabeças representativas da raça Fila Brasileiro. À direita, o Original.
Observe a profundidade do focinho, nas fotografias acima do cão à esquerda e do cão à direita. As fotografias do animal à direita (Zambê de Parnapuan) demonstram a proximidade com o desenho orientado por Santos Cruz. Lábios e orelhas são diferentes do Fila Brasileiro. Da mesma forma, podemos visualizar esses elementos nas imagens abaixo. A conformação da cabeça, o formato, profundidade do focinho e a expressão racial, comparando-se as duas raças não condizem com um mesmo padrão.
À direita o padrão Original preservado.
À direita o padrão Original preservado.
Pode-se ver acima, à direita, desenho de um padrão de cabeça cada vez mais em esquecimento. À esquerda, implantação de orelhas e profundidade de focinho, fora do padrão OFB. Afinal, estamos diante do padrão Fila Puro, com pedigree FB, e Original Fila Brasileiro. Duas raças distintas. As sábias palavras de Santos Cruz são sempre um lembrete para os desavisados, os criadores de “modas”, os seguidores do modismo comercial, ou os menos estudiosos e atentos. Abaixo, alguns trechos do autor:
Os programas atuais orientam, como comenta Santos Cruz, os exageros na cabeça, e o focinho muito profundo, além das orelhas muito baixas, como conseqüência do aumento do couro, ou seu excesso.
Compare as imagens abaixo e veja, à esquerda, o padrão de cabeça mais praticado atualmente, e ao centro e direita, cabeças de Padrão Original, sendo ao centro a cadela de fazenda Lindinha (2012) e, à direita, cabeça da cadela Granfina de Parnapuan.
A nosso ver, as cabeças representadas pelas duas fêmeas, idênticas apesar de terem vivido décadas – mais de 50 anos - distantes uma da outra, tem o significado da preservação que não se faz atualmente. “Esquecida” em uma fazenda do interior de Minas Gerais, a cadela Lindinha (ao meio), já velha, tinha as mesmas características de Granfina de Parnapuan. Ao vê-la pude sentir que estava diante de algo preservado, longe dos “críticos da obra feita”, nas mãos de alguém que a mantinha somente porque gostava de sua funcionalidade, do seu temperamento de guarda na fazenda e pela sua fidelidade aos donos.