Parte 1
Aviso aos usuários de celular: a legenda "ao lado" se refere às imagens que estão "acima"
Para elaboração do primeiro padrão FB, Santos Cruz se baseou em animais como estes (abaixo)...
...descartáveis? Afinal, onde ainda podemos encontrar animais Fila Brasileiro com cabeça, orelhas, focinho e rima labial como acima?
Nas imagens acima: à esquerda, Leo da Jaguara. Ao centro, criação de fazenda desde 1930 em família. À direita, o moderno: cabeças profundamente diferentes, pedigree de mesma raça. Como foram surgir cabeças tão exacerbadas? E estes lábios fora do padrão?
À esquerda: cabeça de um cão Original Fila Brasileiro. À direita, cão Fila Brasileiro.
Qualquer que seja o pedigree dos cães atuais, a expressão dominante difere do que vemos nas fotografias antigas e nos raríssimos cães que permaneceram intocados ainda hoje, pelas criações comerciais nas últimas décadas. Por algum capricho de coincidências, alguns exemplares ainda restam na atualidade, sejam descendentes de cães de padrão original de canis desativados de décadas anteriores, ou mais raramente ainda, originários de algumas fazendas de interior que jamais registraram seus cães. Em poucos espécimens com pedigree ainda se pode ver este padrão.
Na imagem ao lado:
À esquerda, Danúbio, RI CAFIB, final da década de 1970, cão de padrão original; à direita, Fila Brasileiro atual.
À esquerda, Fila Brasileiro. À direita, perfil de cabeça de padrão original.
Como surgiram os lábios, como acima e à esquerda, que contrariam todos os padrões FB? E as orelhas tão abaixo da linha dos olhos?
Para os apologistas do FB Moderno, o cão Dunga de Parnapuan (acima, à esquerda e no meio) seria um vira latas grande, ou algo que poderia receber qualquer nome, menos Fila Brasileiro, claro, para eles. Assim como o cão Danúbio (acima e à direita), registrado em 1980, ou Bumbo da Vila Paulista, registrado em 1945 (abaixo), no sistema oficial, CBKC. No seu ambiente de criação, estes cães não existem. Por isto o estranhamento.
Nas imagens ao lado, vemos:
À esquerda o cão Padeiro de padrão Original, criação Teli Gonçalves, prop. Mazinho Teodóro, e ao centro cão Fila Brasileiro. À direita imagem de cabeça original. Duas raças distintas.
Esquerda e acima: cadela Lindinha, puro Original. À direta e acima, Fila moderno.
A cabeça é sempre um indicativo de raça....
Na imagem ao lado, temos:
À esquerda, cabeça em formato de pera de um exemplar Original. À direita, cão Fila Brasileiro: arcos zigomáticos menores, perda da potencia da mordida e acréscimo de couro. Comprometimento da visão e irritação nas mucosas dos olhos. Lábios extremamente profundos.
Opções podem ser feitas quanto ao padrão a se seguir. Tipo mais rebaixado ou tipo mais elevado ? Lábios muito pendentes e profundos ou moderados como dita o padrão Santos Cruz? Quanto de couro é recomendável? Qual a distancia do chão ao tórax é recomendável? E o tamanho das pernas?
Esquerda: Fila Original. Direita: Fila Brasileiro (moderno)
Tipos diferentes representam o mesmo padrão?
É possível que a moda leve à extinção linhagens que ainda preservam as características originais do Fila Brasileiro, a se continuar a criação de cães tão diferentes com o mesmo documento de raça. A tendência do moderno prevalecer nas pistas dita as normas de criação, e exclui os de padrão mais antigo, que passa a se tornar estranho. A noção de estética dominante torna os outros feios e defasados. Observe-se os lábios dos cães acima. No moderno, a profundidade é excessiva. Abrigar os cães de padrão mais antigo, e valorizar o nome Original Fila Brasileiro, é, ao nosso ver, a melhor forma de preservá-los. Para isso é importante um documento à parte.
Abaixo, imagens de cães de padrão Original. Lábios padrão, fora da cinofilia moderna.
Segundo o padrão Cafib, a respeito do focinho: “nunca deve a profundidade igualar ou ultrapassar o comprimento”. Compatível com todos os cães de Padrão Original, através de fotografias de cães Parnapuan e outros cães registrados na primeira década de registros da raça. Em geral, o aumento de couro acarreta o aumento da rima labial, e temo que, por consequência, outras alterações comprometedoras para a raça, além da expressão racial, hoje bastante “carregada”. Nas décadas de 1970/80 aproximadamente, a raça de gado zebuíno Indu Brasil entrou em processo de implosão, devido a que os criadores focaram tanto seu trabalho de seleção, no aumento do tamanho das orelhas, que os animais se tornaram excessivamente linfáticos e paquidérmicos. Os bezerros tornaram-se extremamente “moles” ao nascer, necessitando que fossem mantidos apoiados pelos vaqueiros até ao terceiro ou quarto dia de vida, para serem amamentados nas vacas. Juntamente com o excesso de orelhas, possivelmente vinham vinculados gens que determinavam outras características, comprometendo a saúde dos animais e sua capacidade de viver com naturalidade.
Nas figuras ao lado:
À esquerda, o Fila Brasileiro moderno. À direita, o tipo Padrão Original, em desenho idealizado por Santos Cruz e em fotografias de cães autênticos e fieis à origem.
A grande profundidade dos lábios parece ser uma “marca” da modernidade, embora o padrão Santos Cruz seja proibitivo quanto a este item – mas quase nunca respeitado.
Para a criação do Original, vamos respeitar as medidas estabelecidas pelo patrono da raça Fila.
Acima: À esquerda, imagem da preferência moderna (evolução?), à direita, focinho mais “natural”.
Será uma tendência de todos os clubes de criação de Fila Brasileiro, alterar a profundidade dos lábios nos cães, apesar do padrão proibir? Serão os cães de lábios mais ao padrão antigo, penalizados no futuro? Ou eles estarão sendo já penalizados em razão de uma estética moderna?
Veja algumas imagens que representam a cabeça desejável para o padrão OFB.
À esquerda, cão Original da origem Teli Gonçalves, 2010. À direita, cabeça Parnapuan.
Cabeças de cães sem parentesco, em programa de reprodução pelo Núcleo de Preservação do Original F.B. Ambos de genéticas intocadas.
À esquerda, alteração na calota craniana e lábios inferiores formando “bolsa”. À direita, Original.
Compare-se a expressão racial do Original à direita e o desenho de um Fila Moderno à esquerda.
À esquerda, Padrão Original, e à direita o Fila Brasileiro em versão atualizada.
A observância do padrão CAFIB “nunca deve a profundidade igualar ou ultrapassar o comprimento” (item que se refere ao focinho), que é considerado parâmetro para a preservação de uma morfologia de concepção mais tradicional na raça Fila Brasileiro, é muito variável em todos os planteis, deixando brechas para muitas interpretações sobre a morfologia ideal e distanciando-se do Original, como se vê. A partir de certo ponto das alterações ao longo de gerações, fica muito difícil recompor a originalidade. Por isso, lutamos pela urgência da separação das raças.
Nas imagens acima, enfocamos a cabeça de cães de padrão Original, de origem genética diversa, em programa de reprodução.
Expressão suave, alerta, nobre; ausência de “bolsa” formada pelos lábios inferiores, lábios obedientemente de tamanho e profundidade “nunca” maiores que o comprimento do focinho. Mais músculos do que massa corporal e pernas de bom tamanho, que combinam agilidade e resistência, conferindo força e capacidade para longas jornadas.
Homogeneidade e originalidade no plantel inicial, para a formação do plantel futuro, são requisitos essenciais para se evitar no máximo as alterações que a genética permite no processo seletivo. Os cuidados nas primeiras gerações devem ser primorosos para a comprovação das características básicas do padrão. Para as gerações futuras, é cuidar da manutenção do padrão resgatado.
Por fim, cabe-nos a reflexão: o que será feito com os últimos cães que ainda apresentam cabeças e fenótipos do tipo Original?
Para que não fiquem condenados à extinção, criamos o padrão Original Fila Brasileiro, onde cães como estes poderão estar abrigados. Cremos que brevemente estes cães serão considerados inadequados nas exposições, seus proprietários poderão se sentir ridicularizados, até humilhados pois estarão totalmente fora da moda que valoriza os de grandes bocarras e dobras de couro. Recentemente um juiz brasileiro chamou a atenção de vários expositores em um evento fora do Brasil, ao dizer que havia ali um único cão que não era Fila Brasileiro, apontando para o criador com seu animal. Segundo informações, possivelmente o juiz estaria se referindo a um cão de padrão mais antigo, menos pesado que os demais, inadequado naquele ambiente.É evidente que os preservadores estão sendo levados para fora do mercado. Os criadores que visam a comercialização como prioridade, devem permanecer com as tendências de moda. A preservação é um trabalho abnegado, que exige dedicação e talvez pouco resultado financeiro.