REFRESCO NA MEMÓRIA
Parte 4
Parte 4
Dunga de Parnapuan
Continuando nosso trabalho com objetivo de elucidar e tirar dúvidas, mas sobretudo de levar ao conhecimento dos mais novos na cinofilia do Fila – e claro, refrescando a memória dos que a perderam - sobre os antigos OFB, os verdadeiros Filas Brasileiro, hoje vamos contar um pouco sobre que cão foi Dunga de Parnapuan (foto a seguir).
Dunga foi exportado por Santos Cruz para a Alemanha, para o príncipe, Sua Alteza Real, Albrecht Von Bayern, em 24/04/1954, com pouco mais de três meses de idade. Ao retornar ao Brasil, em 1955, o príncipe concedeu uma entrevista ao jornal brasileiro A Tribuna, da qual comentamos algumas partes (fonte, livro Fila Brasileiro – Um Presente das Estrelas de Paulo Roberto Godinho).
Na entrevista, o príncipe conta: “Um tanto pela curiosidade, levei comigo um filhote, da criação de Dr. Paulo Santos Cruz. Chama-se Dunga de Parnapuan, embora atenda pelo apelido de “tyras”, nome de um cão que figura em uma lenda alemã. Dunga porém cativou-nos. Tem tudo quanto um cinófilo deseja: coragem, lealdade, bravura, meiguice, obediência e um instinto de guarda que ultrapassou todas as expectativas. Realmente os Filas são dotados de caráter e temperamento excepcionais. A princípio supusemos que a aclimatação duraria uma ou duas gerações. Todavia o próprio Dunga, no primeiro inverno, já estava perfeitamente aclimatado”.
O príncipe explica que Dunga adquiriu subpelo e se refestelava na neve tranquilamente, preferindo deitar-se na neve que ficar junto à lareira. Ele comenta: “Esta adaptação tão rápida, demonstra a rusticidade da raça, a tremenda saúde de que são portadores e uma perfeição orgânica fantástica. Os senhores podem se orgulhar de haver fixado uma raça de cães tão extraordinários.”
Em outra descrição do comportamento de Dunga De Parnapuan, segundo nos conta com detalhes Godinho em seu livro aqui citado, à pág. 278, Dunga, aos 7 meses de idade, agarra um boi pelas ventas, tentando derrubá-lo. Dunga via um boi pela primeira vez. Godinho reflete sobre a situação com as palavras: “Dunga jamais vira um boi; seu pai Ch. Tamoio de Parnapuan, fora trazido de Conselheiro Lafaiete (MG) com pouco mais de um mês de idade e também não conhecia gado de espécie alguma. Da mesma forma sua mãe, a Ch. Lupe Von Cadysz y Cadyz, que deixara a fazenda de José Gomes em Varginha, com três meses, sem ter visto ou tido contato com bois.”
Godinho raciocina, sobre a habilidade inata do cão, ao tentar subjugar o boi: “Como soube que aquele animal era um boi? E em que lugar de sua cabeça estaria arquivada a melhor maneira de subjugá-lo?”
Tudo isso – seja a realidade atual, seja a realidade do passado, tem nos levado à busca incessante de animais como Dunga de Parnapuan, de fenótipo atlético, cães ágeis, ativos, rústicos, de uma “perfeição orgânica fantástica”. E estamos encontrando estes animais que agora os modernistas, nada entendendo deles, dizem serem “mestiços de Dog Alemão de péssima qualidade”, “Chiuaua gigantes”, e toda sorte de coisas que refletem desconhecimento da história e da raça na concepção original.
Acima: fotografias dos cães, à esquerda Zambu do Córrego Preto, 2018, OFB, e à direita Dunga de Parnapuan, 1955. Resgatando as origens.
Meus amigos, agora na atualidade das alterações de nossa raça original, para a produção em massa de cães de exposição, para a vaidade de alguns - e comércio - a modernidade altera este patrimônio nacional, transformando-o em um animal lerdo, pesado, de porte rebaixado e não elevado, pernas curtas, cheio de couro, barbelas e lábios enormes.
Sabemos que a cinofilia moderna é uma atividade do mundo social, com seus eventos “chiques”, ou cheios de fantasias e mitos. Muitas vezes são eventos comerciais que sustentam canis enormes, como sabemos de casos de criações de Fila Brasileiro.
O mundo pet é um mundo que não queremos criticar, e respeitamos, pois as pessoas urbanas têm outra concepção de vida, que difere diametralmente do mundo rural tradicional. Não estamos aqui para combater o mundo pet. Mas, com relação à nossa raça canina rural, Original Fila Brasileiro, estamos preferindo não transformá-lo em pet.
Acima, o denominado fila brasileiro puro, hoje o mais festejado para os campeonatos de shows pet. O pai do clube de criação de filas puros, dá importante dica de como poderiam ter saído do tipo Dunga de Parnapuan e chegado ao tipo atual: confessa a prática de se registrar mestiços, para posteriores acasalamentos. Quais tipos de mestiços entraram na composição dos modernos, não explicou completamente. Mas que mudou radicalmente, do original para o moderno, mudou.
O trabalho que está proposto é de Preservação do Original. Para isso, estamos estudando-o nos seus locais de origem – e isso viemos fazendo de forma incessante desde 1976 – e tentando aprender cada vez mais com os cães e com os homens que os criam há séculos. Gerações de homens do campo e de cães do campo, interagem de formas ainda pouco explicadas, investigadas. E como ainda persiste esta relação em determinadas localidades do interior de Minas Gerais, continuamos aproveitando para estudar. E seria egoísmo nosso não compartilhar com todo este público que tem nos seguido em busca da verdade sobre o Fila Brasileiro.
Contamos com todos para nos organizarmos e criarmos uma confraria, pela preservação deste patrimônio nacional, na sua concepção original. Aos poucos, vamos consolidando o Núcleo de Preservação do Original Fila Brasileiro.
Obrigado por consumir esse conteúdo! Esperamos que tenha aprendido!