27 de Fevereiro
Texto da Publicação
Prezados seguidores de nosso Facebook originalfilabr, depois de um longo período sem publicações, retornando agora de fora do nosso Brasil, vamos a mais uma publicação para mantermos nossos conceitos de raça.
O importante agora é procurar estabelecer em nossas mentes o que cabe no padrão racial Original, porque o que não cabe já está bastante evidenciado ao longo dos mais de 10 anos de trabalho, e de nossas publicações.
Queremos cães saudáveis, fortes, com uma combinação equilibrada de potencial agilidade, força, ímpeto e garra, como está nos anais de nossa história da raça Fila Brasileiro, o antigo.
Não foi necessário um trabalho zootécnico, como se faz para a formação de novas raças. Já contávamos com uma genética fixada ao longo de nossa história colonial, portanto o trabalho foi e tem sido de resgate e não de recriação.
Separar com cuidado, contando com alguma experiência na criação e com artigos e fotografias antigos, provenientes das mãos de estudiosos que tiveram a sorte de conviver com cães originais nas fazendas nas décadas de 1940/50, e programar os acasalamentos entre os mais semelhantes, foi o que iniciamos fazer e continuaremos.
O projeto OFB é como o “Ovo de Colombo”: fácil depois de pronto, mas que ninguém se propunha a fazer. Na verdade é isso mesmo, não inventamos a roda nem criamos algo excepcional. Só fizemos o fácil que os clubes em sua maioria se recusaram a fazer. Preferiram seguir os caminhos de um mercado que a nosso ver, deixa exposto um complexo de “vira latas” de colonizados: seguir os “países desenvolvidos” do norte.
Ao longo de nossas publicações ficou clara uma tendencia de se imitar os molossos modernos, e com isso nosso caipira ficou desvalorizado. Por muitas vezes chegamos no interior e vimos cães nativos considerados inferiores a outros, que o patrão trazia da capital, sobre os quais os funcionários repetiam: “este aí é o Fila Puro”.
Em uma destas viagens o criador Alberto Jorge do Canil Cangaço, perguntou ao peão: “então voce acha que este Fila Puro aí vai aguentar acompanhar o cavalo na lida com o outro?” E a resposta foi taxativa: “não, este aí não aguenta”.
Nesta publicação estamos postando fotos de cães OFB com pedigree, em sua maioria de várias gerações, de diversos canis de diversas regiões diferentes e de genéticas diversas.
O objetivo é demonstrar o quanto o padrão é pre-existente e independente de linhagens, porém se confirma na transmissão por gerações.
Este é o conceito de raça pura mais comum: transmissível por gerações. Tem o conceito da EMBRAPA para raças nacionais e coloniais, aplicado ao nosso gado Pé Duro Curraleiro e agora ao resgate do gado Pantaneiro, assim como para nossos caprinos nordestinos, que considera a diversidade e a variabilidade genética como elementos importantes em raças rústicas.
E que certamente cabe aos nossos pé duros caipiras OFB, que fazemos questão de criar com orgulho de ser brasileiros, de sermos nós mesmos, de reconhecermos nossa cultura e nossa história. Como nossos caipiras somos fortes e somos resilientes.
Chega a nosso conhecimento que recentemente foi publicado no Youtube um vídeo de adestrador com um OFB de canil integrante do NPOFB - Núcleo de Preservação do Original Fila Brasileiro. E que referiu-se ao nosso núcleo no diminutivo (nucleosinho), ensejando uma interpretação depreciativa.
No que no entanto o comportamento e reação do exemplar foi amplamente elogiado, notadamente por se tratar do primeiro contato com um cobaia (figurante).
A responsabilidade de resgate e preservação de uma raça funcional implica numa ampla seleção, onde testes de aptidões e adestramento são apenas parte do trabalho. Por justiça, não se trata de determinados canis, mas de todo um conjunto. Na prática é impossível um só criador resgatar uma raça.
Além de certamente desconhecer os mais de 50 criadores em território nacional e o trabalho que vem sendo feito com todos os cuidados para se alcançar a qualidade que é média geral da criação, descredenciar o trabalho nos pareceu injusto.
Raça não é algo que se alcança qualidade por acaso. É algo do qual se espera um resultado. E se a raça OFB ainda necessita de mais seleção – aliás toda raça necessitará sempre – estamos abertos a sugestões.
O trabalho é novo, mas perante os resultados que estamos obtendo, acreditamos que seria justo uma palavra de reconhecimento. Ou se alguém não conhece a fundo a comunidade, nossos criadores não se negariam a receber visitas e acrescentar mais conhecimento a seus trabalhos.
Outra questão a se colocar é que a raça Original Fila Brasileiro, não é raça para competir com outras específicas para adestramento esportivo. Exemplares tem se mostrado também excepcionais nas fazendas, sem agressão gratuita ao gado e capazes de conviver com funcionários, sem perder o senso de guarda.
No mais, seguiremos com nosso trabalho e esperamos sermos compreendidos cada vez mais e sempre, pois o trabalho prossegue.
Todas as nossas publicações são de cunho didático e inteiramente gratuitas. Nossa organização é sem fins lucrativos.
17 de Março 2023
Texto da Publicação
Temos recebido diversas críticas atualmente, em sua maioria construtivas, diferentemente das antigas reações que tivemos logo que foi lançado o projeto. E por construtivas devemos entender aquelas criticas ou sugestões, que podem promover a reflexão de nossos aliados e da parte de todos nós, no sentido de melhorarmos as técnicas de preservação da raça.
A palavra preservação é indutora de nossas atitudes e condução de comportamento, servindo de guia para que não nos percamos em debates de opiniões que já vem sendo palco de polêmicas infrutiferas ao longo de décadas nos clubes de criação da raça FB.
Volta e meia somos questionados a respeito de itens sobre comportamento canino e morfologia para a raça FB, provenientes de conceitos estabelecidos por clubes, os quais vem alterando suas próprias condutas ao longo das décadas que a raça foi reconhecida, digamos, oficialmente.
Como já temos lembrado aqui, a raça FB é a que mundialmente teve mais alterações de padrão em toda a historia da cinofilia. E pior, na maioria dos momentos da aplicação dos padrões estabelecidos, pouco se seguiu os textos estabelecidos.
Na parte final do livro “Cão Fila Brasileiro – Preservação do Original” de 2018, publicamos os textos completos de 07 padrões da raça FB ao longo dos anos, além do nosso próprio do OFB:
O primeiro padrão de PSC entregue ao BKC em 1952; o padrão do BKC de 1976; o padrão da Comissão Cafib de 1978, também sob a batuta de PSC; o padrão FCI/CBKC de 1984; o padrão estabelecido pela ACB de 1992; o padrão oficial da CBKC de 2016; o padrão AMFIBRA de 2016.
Podemos dizer que por unamimidade os textos destes padrões afirmam que a raça FB é representada por exemplares molossídes, de talhe grande, a maioria reconhecendo o ideal para cabeças braquicéfalas, e cães de “poderosa ossatura” quase sempre tendo por referencia o texto de PSC/Cafib de 1978.
A figura retangular também tem sido referencial para a maioria dos textos, sendo que o texto Cafib de 1978, sugere animais funcionais: “Trote fácil, suave, leve, largo, de bom rendimento”. “Galope poderoso, alcançando velocidades insuspeitas em cães de tal porte”.
Quanto ao sistema nervoso sugere: “Comportamento calmo, sereno, revelando confiança próprias, suportanto perfeitamente ambientes e ruidos estranhos, como tiros de festim .... “
Um detahe importante no contexto da modernização da raça FB, é que praticamente todos os textos de padrão condenam certos excessos, especialmente os lábios grandes demais. No caso, padrão Cafib delimitou: “... Nunca a profundidade deve igualar ou ultrapassar o comprimento”
Esta última característica foi talvez a mais negligenciada e contrariada ao longo destes anos, com a introdução de cães de lábios muito profundos em diversos clubes de criação, inclusive o próprio Cafib. E esta característica não veio desvinculada de outras correlatas.
Não precisamos voltar a descrever os desvios do padrão com cães premiados, que já tanto fizemos ao longo de todos estes anos. Os fatos estão consolidados e devemos seguir em frente.
A questão que queremos aqui colocar, que cabe a todos nós, é a respeito das interpretações dos textos de padrão. Como devemos interpretar o que é desejável e o que não deve ser objeto de seleção, dentro de um plantel, sem vilipendiarmos o padrão e a raça?
Em quais limites devemos colocar nossa percepção de qualidade para uma raça? Qual é a massa corporal ideal, quais são as angulações ideais para anteriores e posteriores para uma raça, o que significa o cão apresentar “figura retangular” – quais são as proporções ideiais entre altura na cernelha e comprimento?
E porque tudo isso é importante, e o quanto é importante que se chegue ao conceito de termos ideais? Com que critérios e parâmetros devemos nos orientar para estabelecer estes ideais?
Aparentemente não se chegou a conclusões razoáveis, partindo-se de tantas tentativas de se estabelecer padrões e pouco consenso até agora, até porque os padrões não tem sidos seguidos fielmente.
Ao longo de mais de 50 anos da criação da raça FB, vimos de tudo em termos de conformação e morfologia, assim como nos conceitos de temperamento. Cães de nanicos a pernaltas, de muito longos a curtos demais, de muito corpulentos e de estrutura leve, com excesso de labios e de couros como se fossem parentes de hipopótamos.
Finalmente nos últimos anos, estabeleceu-se quase por consenso que os cães deveriam se parecer com misturas de Mastifs/Bloodhounds, no entanto não condizentes com quaisquer textos de padrão racial.
Vale a referencia a estes fatos, para lembramos que a nossa palavra chave é preservação, portanto não estamos buscando referencias nos anos modernos da raça FB, e sim nos anos anteriores, mas sobretudo nos textos mais antigos.
Com relação à questão do temperamento por exemplo, foi fixada a ideia de que tendo “ogerisa a estranhos” o FB deveria apresentar um temperamento ruidoso, intempestivo, ameaçador e mal educado em qualquer local em que estivesse.
Ao observarmos a descrição sobre sistema nervoso estabelecida por PSC (“Comportamento calmo, sereno, revelando confiança próprias, suportando perfeitamente ambientes e ruidos estranhos, como tiros de festim .... “), é fácil perceber que o comportamento adotado como ideal ao longo de todos estes anos, se contrapõe ao ideal de sistema nervoso.
No nosso primeiro encontro de cães OFB em T. Otoni, tivemos diversos exemplares que não estavam preparados para pista, cães que sairam de chácaras ou de fazendas pela primeira vez na vida.
Para os criadores “formados” pela concepção moderna das exposições, somente tem valor aqueles cães que se colocam agressivamente durante o evento. A síndrome da “ojeriza a estranhos” exacerbada. Que na maioria das vezes foi o “gatilho” para o super desenvolvimento do “drive de defesa” na raça – que se associa à fuga.
Para nós que estávamos observando o comportamento em 100% do plantel, valeu a ótima demonstração de comportamento “calmo, sereno, revelando confiança próprias, suportando prefeitamente ambientes e ruidos estranhos”.
A ausencia de sinais de stress, diante de ambientes estranhos com ruidos e cenários de movimentos desconhecidos para os cães, é uma prova essencial.
Nenhuma raça é saudável psicológicamente e mentalmente, se está sempre sensivel a pressões nervosas, quando os animais são expostos a cenários diversos. Então esta é primeira premissa para cães de trabalho!
Nenhuma raça é saudável com excesso de peso, ou com artificios de ordem seletiva, seja mental ou morfológica. E esta é outra premissa! Por isso neste momento nossas observações tem estes focos.
No nosso caso o que buscamos, se refere a parâmetros de funcionalidade – às funções originais da raça – portanto parâmetros de sistemas nervosos equilibrados e morfologias compatíveis com as origens – cão boiadeiro, caçador de animais de grande porte, e guardião da maior fidelidade e confiança.
O que temos como referencia são, para a morfologia, as fotografias de época, e para o complexo comportamental, os textos antigos e dos primeiros padrões.
Não estamos buscando perfeição, menos ainda homogeneidade, mas algo dentro da razoabilidade para cães saudáveis, uteis e funcionais.
O primeiro momento da raça OFB foi descartar os grandes desvios destes objetivos. Agora, para a frente é estabelecer o que é melhor, testando os cães a grandes caminhadas, jornadas com trotes, exercicios nas fazendas, combinando esforço físico e pressão psicológica e nervosa.
Boa parte dos criadores vem testando esta genética em agressão, buscando linhagens mais adequadas para esporte, defesa pessoal e territorial. E cada criador dentro de suas possibilidades financeiras entre outras, vai promovendo seu trabalho.
Aos poucos iremos estabelecendo o ideal na prática, de olho no que está escrito no nosso padrão. Por enquanto estamos eliminando os excessos e selecionando o funcional. Mas à frente poderemos nos dedicar aos detalhes e pormenores.
Veja uma publicação OFB no You Tube clicando aqui.
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27 de Março 2023
Texto da Publicação
Conceito de raças crioulas.
Algumas interessantes opiniões em nosso Facebook, tem trazido a oportunidade de retomarmos assuntos antes abordados, entre estes o conceito de raça caipira, crioula ou colonial, que separa as raças OFB da FBM.
Há uma impressão em muitos meios – até mesmo acadêmicos – de que nossos aborígenes, caipiras ou crioulos, cães interioranos, não merecem a classificação de raça.
Somente a raça Fila Brasileiro, que seria já reconhecida pela oficialidade, ou seja, os organismos cinófilos como autoridades máximas capazes de nos dizerem se podemos ou não ser incluidos entre as raças “desenvolvidas”.
E quando procuramos distinguir a raça OFB da raça FB, ainda surgem opiniões com a “carga” memorial dos conceitos clubisticos, que nos misturam no mesmo “saco”.
Se separamos é porque queremos nos descolar do ambiente extremado de “certezas” que possibilitou os tantos textos de padrão, que nos distanciaram do passado original da raça. E acreditamos que ela é pré existente!
Também opinam que não conseguiremos atingir níveis de qualidade racial, se não adotarmos imediatamente normas e meios científicos aplicados às raças europeias e americanas do norte.
No que diz respeito à adoção de ferramentas científicas de medição de qualidade, especialmente de saúde, não são dispensáveis obviamente e teremos que chegar a alcançar o acesso a elas em algum momento.
No que diz respeito à formatação da raça, e no caso à identificação do ideal a ser atingido – momento que estamos vivenciando e poderemos estar vivenciando ainda por anos – não podemos faltar com as considerações que vieram a dar formulação a novos conceitos de raça, a partir do momento do reconhecimento do gado Pé Duro Curraleiro.
Até então o reconhecimento de raças como os cavalos crioulos nordestinos por exemplo, eram empíricos, de forma popular.
Para o conceito corrente ainda nos meios acadêmicos mais tradicionais, raça é algo que se mostra o mais homogêneo possível aos olhos de observadores. Concepção baseada no fenótipo dos animais, ainda que este fenótipo tenha sido construído pela denominada seleção artificial.
Os exames de DNA devem comprovar a homogeneidade racial, na maioria das raças construidas com orientação zootécnica. De outra forma, qualquer grupamento de animais que apresente incongruências genéticas, não pode ser denominado “raça”. Também não queremos deixar de lado esta ferramenta!
A questão é que tal “pacote” conceitual – homogeneidade fechada e DNA - muitas vezes deixa de lado outros fatores que certamente caracterizam algumas raças, como a funcionalidade, a rusticidade que caracteriza o grupamento animal e as suas aptidões físicas e mentais desenvolvidas na função.
Como nosso trabalho vem quebrando tabus e mitos que permeiam a criação do Fila Brasileiro, decidimos neste post, reescrever um pouco sobre a saga do reconhecimento do nosso gado “Pé Duro Curraleiro”, crioulo resgatado especialmente no Piauí. (Já produzimos textos neste Facebook em 14/05/2019 e 15/05/2019 com esta temática).
Acessando um artigo de publicação na Revista de Antropologia da UFSCar – Junho de 2018, “Dos Manuais que Fazem Raça: técnicas e enunciados sobre purezas zootécnicas”, da Professora Adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Natacha Simei Leal – (natachaleal@gmail.com), nosso seguidor poderá chegar a interessantes conclusões sobre pureza racial.
Vamos citar aqui alguns trechos do trabalho:
No RESUMO: “O artigo pretende demonstrar como tecnologias de “raceamento” semelhantes podem vir a produzir distintos saberes em torno das ideias de genética, ambiente, nação e mesmo sobre a história e a centralidade da pecuária e do agronegócio na economia brasileira”.
“As raças nativas de gado de uma região constituem uma forma de expressão do povo que a habita. Permitir seu desaparecimento seria o mesmo que permitir a destruição dos marcos físicos de sua civilização. Uma raça nativa de gado é um monumento tão necessário a ser preservado como qualquer monumento histórico, que identifique, caracterize ou dê relevo a uma tradição querida”. (Domingues et al. 1956).
“Se durante a colonização as práticas ultra extensivas de criação que culminaram no desenvolvimento do gado Pé-Duro – sem cercas, manejo alimentar ou seleções dirigidas – foram fundamentais para a ocupação dos sertões e, geraram ciclos econômicos de vulto como do couro” (pg 43).
Da mesma forma, sugere o artigo da revista como origem do Pé Duro, a Península Ibérica, sugestão também que decorre dos estudos mais acurados sobre as origens do Fila Brasileiro, que erroneamente foi considerado um mestiço de raças inglesas.
Sobre a origem do Pé Duro:
“Com vistas a provar a pureza racial dos pés-duros, através da análise de material genético de animais que habitavam a Fazenda Octávio Domingues, um pesquisador da Embrapa passou a realizar pesquisas com marcadores moleculares. Pela análise comparativa do DNA destes espécimes com o de outros bovinos conseguiu provar seu tronco racial original: indubitavelmente eram descendentes diretos dos Auroques Ibéricos.”
Esta análise de material genético, com marcadores moleculares, tem sido um sonho do projeto OFB. Esperamos ainda poder captar recursos para financiar este trabalho, que definitivamente esclareceria suas origens remotas. No caso dependeria de análises de cães ibéricos também, como os remanescentes do extinto Alão, os atuais Alanos.
Mas voltando à questão da comprovação de raça pura, no caso do Gado Curraleiro ou Pé Duro, um embate técnico científico perdurou por anos, já que uma corrente de teóricos acredita que sem uma homogeneização dos animais, do ponto de vista de sua aparência externa, não se pode afirmar por raça pura.
Comenta a situação o artigo da revista:
“A genômica, no entanto, não resolveu um problema: o fenótipo. Como racear espécimes, como os pés-duros, bastantes distintos em seus corpos e colorações? A genética, certamente, assegurou uma origem étnica e a recorrência de um conjunto de atributos que não eram vistos a olho nu (a tendência a produzir o mesmo marmoreio em sua carne e a resistir às mesmas doenças ou parasitas, por exemplo), mas não exatamente critérios fenotípicos ou estéticos precisos”.
“Foi só muito recentemente, no ano de 2012, que os Pés-Duros foram reconhecidos com uma raça bovina nacional. E, justamente, através da difusão de um documento. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento publicou uma portaria autorizando a Associação Brasileira dos Criadores de Curraleiro/Pé-Duro (ABCPD), com sede em Teresina, a emitir outros documentos: certificados de registros genealógicos”.
Segundo a revista aqui citada, finalmente venceu a concepção que acreditamos, se encaixa como luva ao caso do OFB, como explica a autora, após grandes polêmicas:
“.... os saberes da genética, que Domingues considerava atuarem no campo das generalidades, trouxeram outras ferramentas que asseguram a pureza racial. E esta aliança entre tradição, cultura, genética, naturalização, desenvolvimento sustentável gerou alguns efeitos no controverso processo de raceamento dos pés-duros”.
E segue:
“O Processo de Declaração de Relevante Interesse Cultural da Raça de Gado Pé-Duro do Estado do Piauí publicado pela Coordenação de Registro e Conservação da Fundação Cultural daquele estado - um passo fundamental, segundo zootecnistas e criadores, para o reconhecimento da raça - reforça a importância do ‘saber-fazer’ das práticas agropecuárias rústicas dos sertanejos que tornaram esse gado como tal”.
No caso do OFB, como temos demonstrado fartamente, há uma estrutura morfológica bem identificada (nas palavras do criador OFB Alberto Jorge – Canil Cangaço):
“No “chassis”, nos ângulos escápulo-umeral abertos; no comprimento dos membros de cães andadores, que encaram mato alto; na robustez; nos trens traseiros fortes de boa ossatura e principalmente ilíaco comprido, o que contribui para comprimento e angulação adequados; a maioria deles tem cabeça periforme; em média os dentes dos aborígenes se mostram até um pouco mais largos; e definitivamente eles também são homogêneos em não ostentarem um hipertipo. Muito difícil encontrarmos aborígenes hipertipados. Ou de pernas curtas, rebaixados. Ou com ilíaco curto e perna de porco. Drives altos de defesa também não são comuns entre eles”.
E conclui:
“Então eles formam um conjunto homogêneo, mas a homogeneidade é estrutural, interna, mais profunda. Como dito no post sobre o gado Curraleiro”.
Portanto os conceitos tradicionais de identificação racial, ainda que acadêmicos, se baseiam em princípios superados de pureza racial, no qual a tentativa de aparência homogeneizada justifica tal pureza.
Evidentemente que nos casos de espécies consideradas de interesse agropecuário, soma-se à busca por uma aparência homogeneizada, os atributos zootécnicos ligados aos interesses econômicos – mais leite, mais carne, mais ovos, etc.
No caso de caninos, o que predomina é mesmo a estética, a aparência externa, exceto nos cães de trabalho em que a aparência se associa à função ou funções a que se destina.
O conjunto de características que comprovam as raças crioulas, justifica plenamente os trabalhos preservacionistas como o nosso. Até porque não teria sentido querer preservar o novo, produzido por meios artificiais dentro de canis e com sentido puramente comercial ou estético.
Interessa preservar patrimônios autênticos, antigos e ameaçados, como é o caso do OFB. Patrimônio Genético Nacional é aquilo que se refere à história de uma civilização.
Portanto o que devemos fazer é identificar a forma original – por isso a palavra “Original” – em que a raça se mostrava quando “descoberta” pela cinofilia no Brasil. E evidentemente testar estes cães para sabermos se a FORMA se conecta com as FUNÇÕES a que a raça se presta.
Pouco nos interessa as formas REFORMADAS pela seleção artificial nos canis, com objetivos como dissemos, de estética ou de mercado. Sabemos que as orelhas implantadas muito baixas no crânio, colocarão o animal exposto a entrada de água nos ouvidos, em situação de menor proteção ambiental, fora dos canis urbanos. Então porque preservar esta característica, que sabemos foi selecionada artificialmente?
Neste post vamos publicar algumas fotografias de cães considerados originais, colhidas em situações de ambientes naturais da raça, as fazendas. Cães estes que por informações seguras não passaram por canis modernos. Juntamente alguns exemplares mais antigos, com origem no Clube Mineiro, décadas de 1970/1980.
É importante publicar e republicar algumas destas fotografias, porque são balizadoras das referências raciais e fenotípicas que devem ser preservadas. É importante vermos que se trata de uma raça definida. É importante ver que pouco se conectam com fenótipos atuais, a não ser casos esporádicos, de exemplares individuais.
É importante o reconhecimento de que não fosse a decisão do NPOFB, não haveria esta busca especializada pelo fenótipo identificado, para a preservação.
Em um outro post, vamos admitir a possibilidade de algum processo seletivo sobre estes nativos, procurando parâmetros dentro da zootecnia, porém sem perder os princípios da zoognonomia. Outro assunto a se abordar, que permitiu à raça bovina Caracu, partindo dos elementos nativos e coloniais, alcançar um perfil zootécnico funcional nos melhores níveis para as finalidades que a raça se propõe.
Nossas publicações são inteiramente gratuitas e sem fins financeiros, de cunho absolutamente didático. As imagens utilizadas estão disponíveis na internet, ou são de propriedade do Núcleo de Preservação do Original Fila Brasileiro.
O Núcleo de Preservação do Original Fila Brasileiro é a única entidade cinófila dedicada exclusivamente ao resgate do padrão em pauta. Contamos com o apoio da organização SOBRACI, que oferece reconhecimento internacional a este trabalho.
6 de abril
Texto da Publicação
Prezados amigos e aficionados do OFB, hoje vamos exautar o espírito mineiro, da mineiridade e da mineirice, da sabedoria caipira, assim como o espírito da arte, dos artistas, dos cientistas, da ciência, da educação e os educadores do mundo. Neste mundo onde se tenta inverter a ordem do direito, da ciência, da educação, da moral e da civilidade, artistas, como a da personagem Concessa, nos trazem alento e esperança de futuro.
Tomamos liberdade de usar nosso espaço, para lembrar que a preservação de nossos melhores valores, do meio ambiente, e evidentemente do nosso OFB é um caminho a se cuidar.
Vamos cuidar que nosso OFB não venha jamais a ser transformado em Pet, como se fizeram com outras raças.
Avante com alegria na busca pela verdade a cada dia.
É o que podemos fazer. Fazer nossa parte.
Veja o vídeo clicando aqui.
10 de abril
Texto da Publicação
Prezados amigos e seguidores, nossa intenção com a republicação de nossa artista mineira Consessa (Cida Mendes), foi lembrar de nós mesmos, do quanto estamos precisando nos aproximar mais e mais da natureza, de aprender com ela.
Não somos como cães e gatos, mas sim, precisamos encontrar nosso lugar, deixar de poluir nossa casa e aprender a conviver e viver com sustentabilidade.
Segue um link de uma fêmea original Fila Brasileiro, buscando a natureza que a fez, para criar seus filhotes e talvez deixar que aprendam com a mãe maior.
Acesse clicando aqui.
Um de nossos amigos encontra sua fêmea originalfila, dentro da mata próximo da casa, com os cachorrinhos muito bem tratados, já na idade de serem apresentados ao mundo fora de sua toca.
Habilidade materna é uma característica dos animais crioulos ou caipiras, com capacidade de conviverem com a natureza, com pouca interferência humana.
Todas as nossas publicações são gratuitas e nosso site tem como propósito a didática do Original Fila Brasileiro.
4 de maio
Texto da Publicação
Ovo de Colombo.
Em uma de nossas publicações anteriores, chegamos a citar vagamente a história do “Ovo de Colombo”, porém pelo que nos chega de informações, algumas pessoas não a conhecem, ou se conhecem tentam desconsidera-la no contexto do OFB.
A questão é a seguinte. Conta-se que Critóvão Colombo, ao ser homenageado pelo fato de ter chegado às Américas, em um banquete organizado por um cardeal da época, sentiu-se objeto de ciumes de alguns presentes que lhe perguntavam se a tarefa não seria fácil e se outros não poderiam ter alcançado o feito facilmente.
Posto isso ele desafiou os presentes a colocarem um ovo em pé sobre suas extremidades.
Após vários presentes tentarem a tarefa sem sucesso, ele então posicionou o ovo em pé, quebrando levemente a casca, amolecendo uma das partes sem quebrá-lo. Ao que um cortezão mais ciumento tentou desclassificar a façanha, dizendo que seria fácil fazer o mesmo.
A resposta foi: “porque não o fizeram então?”.
E acrescentou que depois que o caminho estava descoberto, todos poderiam trilhá-lo, e seria isto que interessava, e não ficarem debatendo se foi fácil ou não.
Assim é o caso do projeto OFB e os resultados que vem sendo alcançados. Alguns cortezãos da criação do Fila Brasileiro vem tentando desqualificar os trabalhos, dizendo que é muito fácil realizar o feito.
Foram praticamente 13 anos de “navegação” em uma dificil travessia, contra ventos e marés de oposição, especialmente no início dos trabalhos quando o projeto passou a expor a situação em que a raça se encontrava, os equivocos por vezes graves nos julgamentos de raça, com cães defeituosos sendo considerados de excelencia.
Por diversas vezes tivemos nossa página do Facebook “derrubada” por denuncias infundadas, uma destas vezes chegando ao ponto de uma denúncia de um clube contra nossas publicações ser assinada por um criador, em uma estranha associação da parte que expõe com a parte que julga.
Isso só para citar uma pequena parte das dificuldades que nos colocavam no caminho, entre elas ameaças, tentativas de calúnias, etc.
No entanto nossa caravana seguiu incólume, com a certeza de que estávamos na trilha certa, e de que tinhamos uma boa “carta de navegação” construida por anos de experiência de alguns de nossos criadores iniciais.
Atualmente podemos dizer com a satisfação de quem atingiu um alvo importante para a preservação de um patrimônio - que na certa estaria sendo cada vez mais esquecido - que o “caminho para as indias” está aberto para quem desejar navegar por ele.
Em recentes exposições da raça Fila Brasileiro, tem ficado mais claro a cada dia que o padrão antigo está de volta, abandonando-se assim os conceitos equivocados de que o Fila Brasileiro seria um destes molossos exóticos, incapazes de realizar os trabalhos de campo que constituiram sua base racial.
Ganha a raça e ganha a saúde dos cães. Ganham os criadores com os conhecimentos adquiridos e ganha nosso brio de brasileiros com a valorização de nossa identidade cultural, de sermos um povo próprio surgido da colonização, porém a caminho para firmar sua própria identidade.
Neste post, vamos mais uma vez mostrar com satisfação, alguns exemplos de que estamos sendo seguidos por diversas agremiações.
E esperamos que as polêmicas para se negar o projeto OFB se encerrem, e possamos todos seguir o caminho correto. Juntos seremos mais fortes!
Da parte do projeto OFB, estamos continuando a seguir nosso caminho, agora com dezenas de criadores engajados, procurando consolidar cada vez mais as genéticas dos canis. O que vem sendo cada vez mais confirmado com os resultados dos acasalamentos e os bons resultados, conforme os objetivos traçados.
Os caminhos da seleção são longos e sempre sujeitos a ventos e marés, considerando a natureza das mares da genética, mas esperamos poder estar livres das intempéries disseminadas pelas pessoas de má fé.
Nas imagens pode-se ver alguns dos primeiros animais fundadores de linhagens, observando um mesmo padrão desde o nascimento do projeto: O então jovem Ouro do Caramonã, Zabelê do Caramonã (tigrado) e o cão Barão do Puri Moreno (RI de origem nos melhores do antigo plantel Unifila).
Na sequencia outro ícone da criação, Sertão do Cangaço, que muito contribuiu para a formação de diversos planteis.
O macho excepcional Tarzan do Martalice nos dava mais certeza dos caminhos a se seguir, assim como a irmã Tigresa, ambos 50% aborigenes de antiga criação de fazenda.
Com os exemplares escolhidos em fazendas após pesquisas de campo e confirmação sobre a origem, vinha a rusticidade sem perder a tipicidade. Exemplo, a fêmea Suzi vindo de uma fazenda de Sertão.
O casal Baião e Loba do Caramonã juntos à Rural Willys, foram nos trazendo exemplos do melhoramento realizado entre aborigenes e linhagens antigas, nos mostrando que o caminho estava correto.
As diversas criações, cujas imagens de tantos exemplares, hoje não caberiam em uma postagem, foram confirmando a qualidade da genética e a afirmação de que a raça Original Fila Brasileiro é fixada em suas características e aptidões.
Partindo de um grupo de exemplares bem escolhidos, seja de criações ditas oficiais, com pedigree, seja de criações tradicionais de fazendas, o plantel atualmente se firma.
E para felicidade geral da nação dos fileiros, a cada dia os julgamentos em exposições mais se aproximam dos nossos cães. A femea jovem de recente exposição e Guratinguetá, já não tem vergonha de ser original.
Ficam para traz os exemplares modernizados, modificados pela estética de exposições, artificiais, muitas vezes de morfologia comprometedora da saúde. Este caminho é inexorável e veio para ficar!
Todas as imagens divulgadas estão disponiíveis livremente na internet. Nossas publicações tem finalidades unicamente didáticas, oferecidas de forma inteiramente gratuitas e de forma orgânica.
21 de dezembro
Texto da Publicação
Sem medo de ser caipira.
Prezados seguidores do projeto de preservação da raça canina Original Fila Brasileiro, é chegado o final do ano de 2023, completando aproximadamente 13 anos de atuação e luta, pelo crescente grupo de criadores preservacionistas brasileiros, entusiastas de nossa ecologia, nossa história e nossas genéticas crioulas.
É com imenso prazer que podemos anunciar o sucesso do trabalho, com um crescimento contínuo, firme e cada vez mais assertivo. No momento o Núcleo conta com 56 canis credenciados por todo o Brasil e já foram registrados até Setembro de 2023, a marca de 2.080 cães/filhotes. E temos alguns novos criadores para chegar. A tendencia é de crescimento, o que mostra nossa assertividade na comunicação e realidade de padrão. Se não fosse o padrão se confirmar a cada dia mais, para os que adquirem os filhotes – e melhorando – não teríamos tido este sucesso. Porque marketing sem verdade, só dura enquanto não tem o contraditório. E isso foi o que mais tivemos! Se resistimos, sobrevivemos, e estamos expandindo tanto, é porque o OFB é uma verdade.
Nossos cães tem honrado a história da raça, demonstrando o resgate da saúde e funcionalidade, do padrão morfológico e do temperamento esperado para a ela. Nos últimos três anos, em crescimento, estamos atingindo a marca de 500 registros por ano. Que deve ser superada para 2024.
Igualmente, é com imenso prazer que comunicamos o alcance de duas outras vitórias:
- O esgotamento da edição do segundo livro “Cão Fila Brasileiro – Preservação do Original - 2018” com a marca de 1.000 exemplares disponibilizados a criadores, estudiosos, universidades e preservacionistas em geral.
- E o registro da marca OFB - Original Fila Brasileiro realizado no INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial, com concessão 11/07/2023. A marca traz a imagem da cabeça de um exemplar, que deve ser seguida, como parâmetro e referência.
E já estamos providenciando a edição do Ebook para aquisição on line, para atender aos novos pedidos. Nesta caminhada, de mais de uma década, alguns poderiam nos perguntar, quais seriam as razões do acerto com a raça. Mas também as contribuições que trouxemos.
Em primeiro lugar, uma boa atitude foi abandonar dogmas, crendices e mitos que por anos permearam os ambientes da raça, e estudar mais a fundo o que realmente poderia representa-la, em termos de padrão morfológico e comportamento. Neste caso foi necessário que reuníssemos um grupo desvinculado de parte dos clubes tradicionais de criação, que também se dispusesse a enfrentar os “donos da verdade” sobre a raça, que não eram poucos. E é bom lembrar que alguns deles sofriam de síndromes, neste sentido. O ambiente da raça era extremamente cheio de polêmicas, debates infrutíferos, acusações infundadas, cisões e egos inflados. Por isso, já sabíamos do espinheiro que entraríamos.
Neste caso podemos considerar que uma das grandes contribuições de nosso trabalho, para o ambiente de criação da raça, foi o afastamento paulatino dos mais egocêntricos. Estes afastamentos tem representado um grande alívio para todos que querem realizar algo de sério para a raça. Aos poucos aquelas vozes caluniosas, provocadoras, doentias, vão deixando os ambientes da raça Fila.
Pouco a pouco, ao longo dos anos, fomos demonstrando que clubes e exposições não estavam trabalhando para preservar a raça, mas promovendo um afastamento das origens. As pessoas de bom senso, e melhor intencionadas, foram reconhecendo a verdade da causa, e mesmo os que permaneceram nos clubes e exposições, foram procurando se adequar ao padrão de origem, como demonstramos recentemente nos resultados das exposições.
Claro, ainda falta muito para se chegar a um refinamento, no sentido do resgate do padrão antigo, mas é possível perceber que muitos já vão se adequando. Não será fácil para alguns criadores ou clubes que se distanciaram por demais da realidade, mas o esforço é válido; embora acreditemos que existem caminhos mais assertivos do que ficar acasalando linhagens por demais comprometidas entre si. Este é um caminho muito longo e incerto. É preciso não ter medo de ser caipira. Justamente fomos encontrar nos interiores cães esquecidos das exposições, ainda nos melhores padrões antigos.
Nesta nossa publicação, vamos demonstrar um pouco do trabalho de resgate, como foi realizado com acasalamentos programados, conjugando cães de excelente fenótipo de fazendas, a maioria deles ainda no trabalho e vida rústica do campo, utilizando-se o RI, com cães de origem conhecida. Desta forma, garantimos a permanência do padrão de trabalho, junto à segurança da força de transmissão de linhagens selecionadas, com a saúde das novas linhagens, assim como os instintos típicos da raça.
Em segundo lugar, algo que nos deu segurança para ousar nosso trabalho, foram os estudos, e pesquisas por mais de 20 anos depois da publicação do primeiro livro “Cão Fila Brasileiro – Preservação do Original” (1990). A identificação de uma raça portuguesa, amada e admirada pelos reis de Portugal e Espanha, e os antigos caçadores reais, muito parecida com nossos caipiras, nos trouxe esclarecimentos fundamentais para formular um programa de preservação. A visita a Portugal na biblioteca particular dos estudiosos Antônio Ferreira e André Oliveira, foi fundamental para a decisão. Somando-se a isto, a memória de experiencias de campo, com visitas a fazendas de criadores, desde início da década de 1970, juntando-se a outros experientes criadores, deu-nos a coragem de juntos, estabelecermos a empreitada.
Os estudos e pesquisas demarcaram datas importantíssimas para os ancestrais da raça, e a funcionalidade com que os descreviam e confirmavam cada vez mais as possibilidades de serem os ascendentes de nossos filas. O “Libro de la Monteria” foi escrito por Dom Afonso XI, rei de Castela e Leão entre 1342 e 1350. O “Livro de Montaria”, foi composto pelo rei português, D. João I, no período final de seu governo, entre 1415 e 1433. E eles descrevem muito bem o Alão, ao qual nosso Fila é similar. E as esculturas dos cães nos túmulos dos reis, confirmavam um fenótipo extremamente condizente com nossos filas. Era uma raça muito bem fixada, antiquíssima. Também as pesquisas realizadas em documentos brasileiros, demonstravam sua presença entre nós, com funções semelhantes, desde o século XVI. Afinal qual outra raça poderia ser trazida à colônia, para as finalidades venatórias, de guarda e combate, senão aquele nobre cão ibérico?
Partindo destas premissas, iniciamos o trabalho que finalmente vem sendo sucesso, como demonstramos no estudo de caso desta publicação. Em outras publicações, faremos o mesmo, demonstrando a formação de outras linhagens de base para o projeto OFB. Podemos considerar formadas linhagens de base, no Leste de Minas Gerais, na Zona da Mata Mineira, no Sul de Minas Gerais, no Nordeste Brasileiro, no Estado do Pará, no Planalto Central, em Mato Grosso e Goiás. E recentemente estamos vendo nascer linhagens em São Paulo, Paraná e no ES.
Este trabalho a que nos referimos hoje, foi fundado com quatro exemplares, com pedigree de mais de cinco gerações (Caramonã, no caso), juntamente com cinco exemplares oriundos de fazendas, onde sabíamos, já se criava há décadas de forma rústica. Os acasalamentos foram programados de forma intercalada, para não se correr o risco de perder a padronização, acaso viesse a acontecer em alguma fase. Acaso algum acasalamento não desse o resultado esperado, seria possível rever a programação, eliminando-se os registros de uma geração. O que felizmente não aconteceu ao longo de uma década. Os acasalamentos não foram lineares em linha do tempo, alguns tendo ocorrido desde 2012, outros ocorrido paralelamente, até se chegar a 2023. Nesta metodologia, a linhagem que já trazia resultados previsíveis, foi utilizada como espinha dorsal. Assim foi possível testar e avaliar os resultados, a cada introdução de um exemplar crioulo. A variabilidade genética alcançada, não alterou a qualidade do padrão, mas na verdade, contribuiu com mais ancestralidade na genética.
Seguem as fotografias dos exemplares envolvidos e as gerações resultantes, até à décima geração trabalhada, finalmente com os filhotes recém nascidos em novembro de 2023.
Nesta oportunidade, a marca registrada do projeto OFB.
Desejamos ótimas festas de Natal a todos, e um ano novo realmente de renovação, prosperidade e paz para toda a comunidade brasileira, mas também para a comunidade mundial. Que os humanos que detém o poder do mundo possam “pôr a mão na consciência” e deixar de lado as armas e aprender a dialogar pela Paz, pelo Meio Ambiente e pelo nosso maravilhoso planeta com sua ecologia que nos traz vida, alimento e saúde.
30 de dezembro
Texto da Publicação
O DIFÍCIL “FAZER TUDO CORRETAMENTE”.
Continuando com a demonstração de resultados do trabalho de seleção e preservação do Original Fila Brasileiro, alguns vídeos podem deixar fora de dúvidas, o que se pretende, como resgate da raça e da qualidade perdida.
No primeiro livro “Cão Fila Brasileiro – Preservação do Original”, o leitor encontra uma frase dos criadores de cavalo Puro Sangue Inglês, que diz o seguinte: “Na criação de cavalos, se você fizer tudo certo, seu sucesso será incerto; se você não fizer tudo certo, seu insucesso será certo”.
Isso quando o objetivo do cavalo de corrida, é apenas correr mais que os outros, ou seja, praticamente um único objetivo, que submete todos os outros como por exemplo, morfologia. Sim, porque no caso, a morfologia só serve se o cavalo for ganhador no páreo. Não há subjetividade no processo de seleção.
Imagine-se então no caso de animais de raça que tem mais de um objetivo, para o processo seletivo. A margem de erro aumenta na proporção dos objetivos, e muito mais quando as exposições impõem subjetividades. Que foi o caso da maioria das exposições de cães de praticamente todas as raças. O exótico é o que vende, e com este conceito variam os conceitos de beleza e qualidade.
Portanto é extremamente difícil para um criador seguir em sua criação, algo que muda a cada década. Quando um subtipo não vende mais tão bem, os criadores e juízes, para fomentar a manutenção econômica de canis e clubes, “inventam” algo diferente nas características dos animais, iniciam a premiação do novo, e todos que desejarem vender seus produtos, tem que seguir a regra.
Este processo faz com que criadores formados nos clubes, formem também conceitos sobre angulação, movimentação, postura de membros, formas de cabeça, lábios, orelhas, barbelas, etc, etc. Inclusive temperamento e comportamento. Tudo se baseia em cães presos nas guias, conduzidos cuidadosamente por seus tutores, treinados conforme as imposições das exposições, dos criadores mais capitalizados ou influentes, e seus fieis seguidores.
Como postamos em publicação anterior, se a preservação da raça fosse tão óbvia, porque não o fizeram, em 40 anos ou mais de criações, clubes, exposições e publicações?
Quando iniciamos o trabalho de preservação do Original Fila Brasileiro, foi feita uma avaliação da situação. Haveriam poucos exemplares dentro da raça FB, realmente aproveitáveis, nas mãos de poucos criadores e a maioria deles, com graus de consanguinidade que fariam com que qualquer projeto de recuperação da raça a nível nacional, corresse o risco de implosão depois de um tempo. A grande maioria dos cães seria inaproveitável, porque havia passado pelos processos de seleção da modernidade, com fins e objetivos de moda. Os testes que haviam formado os princípios para a seleção, foram formatados para as exposições: movimentação em pequenos espaços, na guia, e testes de temperamento que objetivavam mais o “parecer ser” do que ser.
Neste mundinho, os cães não precisam passar por provas de resistência e trabalho real. Por isso a impossibilidade de se realizar um resgate à altura da raça original; E se de repente alguém mostra a verdade, o criador que está com o capital investido há anos no plantel assim formado, resiste e continua no caminho iniciado. Por isso costumam denominar os funcionais de fazenda de SRD (mas também por “um pouquinho” de despeito, talvez). Na concepção moderna, os puros são os de exposição, ainda que os chamados SRD transmitam para os descendentes perfeitamente, o padrão perdido pela modernidade.
Em alguma publicação antiga nossa, comentamos uma situação em que vários criadores, crendo na fantasia de que seus cães – alguns premiados por temperamento em exposições – seriam capazes de combater um invasor de casa, em situação real, combinaram com um adestrador experiente, de realizar uma invasão simulada.
Chegaram a fazer o adestrador assinar um termo, de responsabilidade acaso fosse agredido seriamente – até em caso de morte, pasmem – livrando a todos os criadores da responsabilidade.
Resultado 01: TODOS os cães, entre estes os premiados por temperamento, fugiram do embate. Com uma simples garrafa pet com pedrinhas dentro, o experiente adestrador – aparentemente já sabia o que aconteceria – colocou para correr para dentro dos canis de casa, os mais bravos cães de exposição. Somente um cão em uma fazenda, enfrentou dignamente o invasor.
Segundo resultado: como tudo foi filmado, os criadores pediram que não se divulgasse de forma alguma os vídeos, pois “prejudicariam a raça”. Este foi um fato – entre outros - que nos levou definitivamente, com outros criadores, a iniciar o trabalho de resgate da raça na concepção original.
Por estas e por outras, seguimos com o resgate e a preservação daquilo que está nas origens, e não estamos falando de morfologia adequada para exposições. Buscamos nos anais da história fotográfica e descritiva dos antigos, aquilo que entendemos ser a realidade da raça original. Por isso seria tão necessário adentrar as fazendas que ainda se sabia, tinham exemplares de origem antiga, funcionais. E continuar o processo na medida do possível, com cães trabalhando com gado – de volta ao interior - e sendo testados em situações reais diversas, como fogos de artifício e outras pressões sobre o sistema nervoso.
Não sabemos – pelo menos ainda – o que é “fazer tudo certo” na criação OFB, mas sabemos o que não deu certo, então o caminho é conhecer a raça sob outros aspectos não estudados, até que saibamos o que é o certo na seleção – e evitar o que não é o certo. Enquanto isso, as críticas vão nos ensinando como as pessoas pensam, e como seus conceitos foram formatados. E vamos aprendendo mais.
Na publicação de hoje, um cão jovem reage aos fogos das festas de Natal, intensos fogos, diga-se, de maneira absolutamente positiva. Outro, também jovem, ajuda a tanger um novilho ao curral, demonstrando a movimentação de trabalho - que diferencia do conceito de movimentação de exposição. Estes resultados que vem sendo alcançado, dificilmente o seria sobre genéticas cuja seleção durante décadas, visou o Drive de Defesa. E como estes, estamos colhendo mais e mais. Eles fazem parte de genéticas altamente transmissíveis, portanto se não são puros para exposição, são puros para guarda e trabalho real, como consta nos anais da história da raça.
Desejamos ótimo 2024 para todos (as) criadores e aficionados do OFB, que nossas mesas sejam fartas; que a justiça esteja presente em nossas vidas, porque enquanto não houver justiça não haverá paz. Que os chefes das nações deixem as guerras e façam a paz!
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