APARÊNCIA GERAL
O Fila Brasileiro é uma raça típica da família dos molossoides: grande porte, ossatura e musculatura muito fortes. Corpo mais comprido do que alto, apresentando figura retangular, porém bem proporcionado e simétrico. A figura é de aparência impressionante, difundindo temor e admiração. O porte é elevado, nunca atarracado. Apresenta nítido dimorfismo sexual.
Nos dois desenhos acima, vemos dois tipos morfológicos hipotéticos, ambos com medidas semelhantes, sendo que um deles é ligeiramente mais alto que o segundo, conservando-se o mesmo comprimento corporal. A segunda forma (desenho à direita) tem sido mais aceita para o Fila Brasileiro, devido ao fato de que a conformação é mais longa, proporcionalmente. Porém, a seleção deste tipo pode tornar o plantel atarracado. Há ainda muito que se estudar no Fila com relação às suas proporções, até que se defina melhor o tipo ideal. Até hoje não se elaborou um estudo completo neste sentido.
Optamos por cães mais elevados. Por quê?
Em primeiro lugar, partimos de fotografias antigas, e nossa convivência com cães encontrados em visitas a fazendas de criações tradicionais. Acreditamos que os cães antigos, e provenientes de situações em que estavam expostos ao trabalho do campo, são produto de uma seleção conjugada no sentido natural/funcional. E esta é a seleção que predomina em suas genéticas. A observação destes animais nos leva a morfologias definidas, que não ousamos nos dar ao direito de alterar ou modificar. São cães funcionais, e o primeiro critério de definição de raça, passa a ser a funcionalidade. São secundários os aspectos puramente estéticos do fenótipo, para a definição de raça. Exemplos a seguir.
Acima, Chita de Paraitinga, 1952 e Tamoio de Parnapuan, 1955.
O padrão diz como todos os padrões da raça FB, “raça típica da família dos molossoides: grande porte, ossatura e musculatura muito fortes.”
Importante entender o significado destas palavras, para uma raça de trabalho. Como se vê acima, nas fotografias de época, não há um significado de excessos, agregado ao tipo morfológico. Foi exatamente este significado de grande massa corporal, agregado ao conceito de molossóide, que ocasionou a adoção da mestiçagem com cães de raças mais pesadas (Mastins), com o Fila Brasileiro Original.
Da mesma forma, foi o que aconteceu com os processos seletivos, que teoricamente não estariam utilizando a mestiçagem, ou que a negam. Os resultados tem sido de cães cada vez mais lentos e incapazes para trabalho. O que os aproxima cada vez mais dos considerados mastifados, ainda que com orelhas de Bloodhond.
Ainda que não se vá utilizar os cães como boiadeiros, outras opções de trabalho, e utilidade, podem se apresentar. Nenhuma fotografia de época, até 1980, nos mostra cães nas proporções dos modernos.
Os animais das fotografias acima, para nosso conceito de molossóides, são suficientes, observando-se sua morfologia – formas estruturais do esqueleto – que lhes permite força e agilidade combinadas, harmonizadas da melhor forma. Eles sempre foram assim.
Outro detalhe do padrão: “Corpo mais comprido do que alto, apresentando figura retangular, porém bem proporcionado e simétrico.”
Acima, o cão Lorde, de José Gomes (esquerda), aproximadamente 1970 e Leãozinho do Aquenta Sol, descendente direto de mesma origem, década de 1980.
O cão Lorde tem sido citado, ao longo do tempo, como bom exemplo de cão da raça FB, sem contestações, e igualmente o cão Leãozinho, foi em determinados períodos, em que o conceito de raça, para a raça FB era semelhante ao nosso, considerado ícone e bom modelo. Observe o que significa “bem proporcionado e simétrico”. Nunca um cão atarracado, muito mais longo que alto. São cães mais longos que altos, porém, apresentam proporções que lhes permitem passadas largas, e grande cobertura de terreno.
Ou : “O porte é elevado, nunca atarracado.”
Novamente nos reportamos às fotografias de cães FB até à década de 1980, a exemplo das fotografias acima, ou quaisquer outras do período. Por mais que os modernistas argumentem a favor de cães atarracados, não se vai encontrar uma única fotografia que respalde estes novos modelos. Estamos em busca de cães que ainda apresentem estas características, e para tanto estamos novamente adentrando localidades mais remotas, onde por um motivo ou outro – porque os cães nunca foram “tocados” pela modernidade, ou porque apresentam padrão antigo, esquecidos pela seleção atualizada, e resgatando estas genéticas.
Acima, expedição ao interior do Nordeste de MG, 1980, com pessoal do Cafib, conduzida pelo Sr. Antônio Carlos L. B., para resgate da raça FB, em busca de cães originais. Ao lado esquerdo, em parte, vê-se Fernando Caran, que à época fazia parte do Cafib.
Vê-se o cão original de fazenda, registrado com RI. Direcionado para reprodução, resultou em excelentes exemplares, por anos premiados em exposições, antes das atuais alterações na concepção de qualidade, modernamente. Nosso trabalho é resgatar as origens da raça, como foi em 1980, no Cafib Teófilo Otoni. Por isso, este padrão.
Acima, cão da fazenda de Geraldo leão, Frei Inocêncio, MG, por ocasião da mesma expedição em que fui guia de juízes do Cafib, 1980.
Cães como estes, atualmente, são considerados insuficientes para a caracterização como molossóides, conforme a concepção moderna. Também são considerados “curtos”, já que as proporções comprimento/altura não condizem com as “atualizações” ou aprimoramento da raça FB. Da mesma forma, são considerados pernaltas.
Buscando a preservação deste tipo antigo, o original, destacamos no texto do padrão, que nunca devem ser atarracados, mas sempre de porte elevado.
A mesma lógica em cães absolutamente sem parentesco. Não sabemos se esta lógica estrutural da raça vem desde quando, se antes do Brasil-Colônia, ou depois. O que sabemos é que ela é recorrente em todos os cães de origem. O que não queremos. A nova morfologia, comum hoje na raça FB, apresentada como modelo, para a raça OFB, é objeto de descarte.
O que nos motiva esta atitude é o fato de que até o momento, nenhum defensor do tipo moderno, nos apresentou fotografias ou desenhos autênticos de época, até 1980, de cães (que não sejam caracterizados como mestiços), como os que seguem em fotografias e desenhos, representando ícones de raça, atuais. Se eles não existiam antes deste período, em situação de originalidade, entendemos que os atuais filas são resultados e alterações intencionais, em nome de adequação a exposições de clubes cinófilos.
No jargão técnico, os cães modernos “estão descendo escadas”.
É perfeitamente evidente que, por aqui, tudo mudou. Houve aumento de massa corporal, as pernas ficaram menores, a relação altura/comprimento foi alterada, as angulações escápulo/humeral foram modificadas (mais fechadas), a cernelha tornou-se mais baixa – muito mais baixa que a garupa – os membros em geral passaram a ser mais curtos. Todas estas modificações alteram a dinâmica do cão, a movimentação se torna mais lenta e difícil, acarretando maior esforço para a cobertura de terreno. Por isso os descartamos: alterações na funcionalidade.
As comparações acima, entre as fotografias e desenhos, esclarecem nossa opção de padrão, também conforme o modelo a seguir: